Assembleia das Mulheres Indígenas de MT reúne mais de 300 mulheres

Evento reúne mais 300 mulheres indígenas para refletirem acerca de desafios comuns em suas vidas e territórios

Geisy Aikdapa, do povo Rikbaktsa – Foto: Larissa Silva / Rede Juruena Vivo

A aldeia Krehawa, situada na Terra Indígena São Domingos, do povo Karajá, foi o palco da IV Assembleia das Mulheres Indígenas de Mato Grosso, organizada pelo Departamento de Mulheres da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt). Entre os dias 04 e 08 de julho, mais de 300 mulheres indígenas se reuniram para compartilhar experiências, refletir sobre desafios comuns e discutir soluções para suas comunidades e territórios.

O evento demonstrou ser um espaço crucial para a reflexão, troca de experiências e fortalecimento das lideranças femininas indígenas, destacando a urgência de ações concretas e políticas públicas que atendam às necessidades dessas mulheres e suas comunidades.

Geisy Aikdapa, do povo Rikbaktsa – Foto: Larissa Silva / Rede Juruena Vivo

Com apoio da Operação Amazônia Nativa (OPAN), por meio do projeto Berço das Águas, patrocinado pela Petrobras, 40 indígenas do noroeste de Mato Grosso participaram do evento, representando os povos Rikbaktsa, Apiaká, Enawene Nawe, Manoki, Myky, Munduruku, Kawaiwete, Haliti-Paresi e Nambikwara, além de comunicadores populares da Rede Juruena Vivo e indigenistas da instituição

Discussões cruciais e monitoramento territorial

A importância de realização de monitoramento territorial foi pautada quando discutiram sobre como as diversas ameaças e pressões (extração ilegal de madeira, avanço da mineração e do garimpo ilegal, construção de hidrelétricas, invasão dos territórios, expansão do agronegócio…) as impactam, sendo elas grandes protetoras de suas comunidades.

As lideranças reforçaram a urgência de políticas públicas específicas com a participação das mulheres indígenas, assim como pautas relacionadas ao associativismo, indicando como o fortalecimento das organizações pode potencializar a autonomia das mulheres do ponto de vista político e econômico.

Enfrentamento da violência

O encontro também abordou as situações de violência doméstica – moral, mental/psicológica, física e patrimonial – e a omissão de órgãos públicos diante dessas ocorrências contra mulheres indígenas.

Eliane Xunakalo, do povo Kurâ Bakairi – Foto: Larissa Silva / Rede Juruena Vivo

A presidente da Fepoimt, Eliane Xunakalo, enfatizou a importância da Lei Maria da Penha e orientou as mulheres indígenas a denunciarem as violências sofridas. E também destacou a necessidade de descontruir a ideia de que tais agressões são culturais

“Muitas de nós ainda achamos que as agressões são algo cultural, mas não é. Não podemos mais ver a violência contra nossos corpos, não é cultural”, ressaltou.

As participantes ainda reforçaram a necessidade de acolhimento e atendimento adequado para mulheres em situação de vulnerabilidade. Joziléia Kaingang, diretora executiva da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), destacou que a ANMIGA e outras organizações têm cobrado ações efetivas do Governo Federal.

Fortalecimento cultural e econômico

Watatakalu Yawalapiti, do povo Yawalapiti -Foto: Larissa Silva / Rede Juruena Vivo

Além das discussões, a Assembleia também promoveu apresentações culturais e uma exposição de artesanato indígena. Watatakalu Yawalapiti, co-fundadora da ANMIGA, destacou a importância desses eventos para a troca de experiências e a geração de renda.

“Nesses eventos de mulheres grandes assim, ou em qualquer evento do movimento indígena, é um lugar de troca, não só com os não-indígenas que vêm e compram o artesanato, mas também a troca entre mulheres indígenas. Por isso é importante que as organizações indígenas foquem nessas mulheres, porque elas que geram renda dentro das comunidades, elas que continuam mantendo a nossa cultura”

Representação e Participação

Esta assembleia marcou a primeira participação das mulheres do povo Enawenê Nawê na Assembleia das Mulheres Indígenas da FEPOIMT, representando um marco importante na luta por direitos das mulheres indígenas do estado de Mato Grosso. A diversidade e a união destas vozes reforçam a importância do evento para a promoção de lideranças femininas e a defesa dos direitos dos povos originários.

Kawekwa Enawenero, do povo Enawenê-Nawê – Foto: Larissa Silva / Rede Juruena Vivo

Próximo Encontro

Ao final do evento, foi decidido que a próxima edição da Assembleia das Mulheres Indígenas de Mato Grosso será realizada no Território Indígena Japuíra, do povo Rikbaktsa. Ivaneide Hepowy, vice-presidente da Associação Indígena de Mulheres Rikbaktsa (AIMURIK), expressou suas expectativas e desejou boas- vindas às futuras participantes. “Sejam bem-vindas à nossa comunidade, ao nosso território. Faremos o máximo possível para recebê-las bem e aguardamos ansiosamente por todas vocês.”

O evento culminou em um sentimento de fortalecimento e renovação entre as presentes, reafirmando a força e a resiliência das mulheres indígenas na defesa de seus direitos, territórios e culturas, e romovendo uma rede de apoio e solidariedade entre as diversas etnias de Mato Grosso.